segunda-feira, 15 de maio de 2023

Letramento

 

Por Prof.ª Dr.ª Silvia de Toledo Silva

            Os estudos realizados, acerca do letramento, demonstram que o uso desse termo, ocorre nos anos oitenta, com o propósito de ampliar o significado da palavra alfabetização, sentido este, que vai além do significado de ler (decodificar as letras escritas) e escrever (codificar as letras).

            Segundo Kato (1990), uma pessoa letrada, seria então, a pessoa apta a utilizar a escrita, para suas necessidades individuais, atendendo as exigências de sociedades que privilegiam a escrita, como meio de comunicação. Para essa autora, a norma culta, é resultado do letramento.

            Tfouni (1997), discorre sobre o letramento no contexto social, enfocando as características sociais e históricas da aquisição da escrita, primando por conhecer os acontecimentos de uma sociedade ao adotarem a escrita restrita ou generalizada, objetivando conhecer as práticas psicossociais que substituem as ações letradas nos contextos ágrafos (que não possuem sistemas de escrita). Nesse sentido, a referida autora investiga, não só alfabetizados, mas também os analfabetos, deixando o contexto individual para centralizar-se no social.

            Kleiman (1995), por sua vez, menciona que o uso do vocábulo letramento, nos meios acadêmicos, objetivou dissociar estudos a respeito do impacto social da escrita, dos estudos sobre alfabetização. Em sua visão, os estudos sobre o letramento, percorrem o caminho do desenvolvimento social da escrita, aliado à sua expansão desde século XVI, observando condições de seu uso e efeitos das práticas usuais em grupos não industrializados, como tecnologia comunicacional de lideranças do poder.

            Para Kleiman, são letradas, crianças e adultos que possuem sistemas de oralidade, os quais demonstram afinidades com textos escritos, por conviverem em contexto letrado.  Dessa forma, essa autora compreende que a sociedade é composta por diferentes agências de letramento, sendo elas: a família, a vizinhança, a igreja, a escola, o clube, etc. Entre elas, a agência de letramento mais importante, é a escola, por ser a responsável pelo ensino da leitura e da escrita, instrumentalizando os(as) alunos(as), a fim de usufruírem desse aprendizado para si no convívio social, no qual estão inseridos.

            Conforme explica Soares (1999), a palavra letramento, se origina no conceito inglês, literacy, que significa, letrado, do latim littera, que quer dizer, letra, acrescido do sufixo menta denota então, o resultado de uma ação. Assim, Soares expõe que o letramento, é o cômputo do ato de ensinar ou de aprender a ler e escrever, o modo ou a posição que adquire um sujeito ou grupo social, por valer-se da aprendizagem da escrita. Portanto, para Soares, letramento não é alfabetização (treino entre relações de fonemas e grafemas, mas o usufruir do prazer de ler em diferentes lugares, por escolha própria, é a interação diária com a imprensa, o desfrutar da leitura para a aquisição de instruções variadas, é ler histórias que despertem a imaginação, viajando sem ao menos deslocar-se do lugar onde se está utilizando a escrita como meio de orientar-se no mundo, conhecendo suas próprias possibilidades que lhe permitam mapear o que poderá vir a ser.

            Ainda em conformidade aos estudos realizados, a palavra letramento surge pela primeira vez, como verbete de dicionário, em dois mil e um (Houaiss, 2001), significando a representação falada por meio de sinais; escrita; PED. (processo pedagógico) e conjunto de ações que resultam na capacidade de utilizar materiais escritos diversificados.

            Como vivemos em sociedade industrializada, tecnológica e letrada, faz-se necessário estar alfabetizado e ser letrado, saber usar o ler e escrever para compreender e atuar socialmente, enquanto cidadão.

            Kleiman, apud Rojo (1998), explica que crianças provenientes de lares letrados, onde o ato de ler constantemente e usufrui da audição de histórias/contos infantis (adultos leem) para elas, com frequência; participa com a família de eventos onde a leitura, se faz necessário, se desenvolve na escola mais facilmente em detrimento de crianças provenientes de família que não se utiliza da escrita e da leitura em seu cotidiano.

            De acordo com a explicação de Kleiman, exposta no parágrafo acima, é que se originam problemas de aprendizagem na fase de alfabetização, que por sua vez, podem ser resolvidos rapidamente, se os(as) professores(as), tendo tal conhecimento, formularem objetivos claros, em seus planos de aulas, os quais auxiliados por uma sequência didática de atividades adequadas, serão facilmente compreendidas pelos(as) alunos(as), a bem do seu aprendizado.

            Assim, é de suma importância compreender que os significados das palavras: letramento e alfabetização são distintos.

 

Referências Bibliográficas

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.

KATO, M. A. No mundo da Escrita: Uma perspectiva psicolinguística. São Paulo, Ática, 1990.

KLEIMAN, A. B. (org.) Os Significados do Letramento: Uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, Mercado das Letras, 1995.

ROJO, H. R. R. Alfabetização e Letramento. Campinas, Mercado das Letras, 1998.

SOARES, M. S. Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Ceale, 1999.

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