segunda-feira, 15 de maio de 2023

ALFABETIZAÇÃO

 


Por Profª Drª Silvia de Toledo Silva

            De acordo com a história da educação, a escrita surge pela necessidade de comunicação entre o povo egípcio, primeiramente por meio dos hieróglifos, em seguida, como obra artesã, para perpetuar os costumes das famílias conservadoras, entretanto nessa época, não significava o ensino por escrito, já que nesse período, o ensino era mnemônico, ou seja, memorizados, principalmente para se reter na memória os preceitos religiosos.

            Por volta do século IV a. C., conforme explica Manacorda (1989), ao escrever a respeito da educação grega, menciona o termo, escola do alfabeto e situações de escrita, referente aos povos antigos.

            A partir desse período, a escrita começa a ter importante função social, aos cidadãos livres, ensinada pelo mestre do alfabeto, o qual não tinha a mesma autoridade do escriba egípcio, porém exercia uma importante função social. A escrita, portanto, era parte dos conteúdos que um jovem livre deveria saber.

            Se, nessa época, a escrita já surgia como função social, atualmente, na segunda década do século XXI, nem se discute tal importância! Nesse sentido, como explicar que alunos matriculados na Educação Básica (Ensinos: Infantil, Fundamental e Médio), após tantos anos na escola, ainda cheguem ao final, com defasagem no processo de alfabetização, uma vez que verbetes de dicionários, expõem que alfabetizar, é o ensino da leitura e escrita (Bueno, 1996); ensinar alguém ou aprender as primeiras letras, percurso de aprendizagem dos códigos alfabéticos e numéricos (Houaiss, 2001); ensinar a ler e escrever (Ferreira, 2011); significado de ensinar ou aprender a ler e escrever (aule-te.com.br, 2022).

            Estudiosos do ato de alfabetizar, atribuem-lhe sentidos mais amplos, como Freire (1994), que compreende a alfabetização, como ato político de criar, conhecer conseguir ler o mundo pelas palavras; Ferreiro (1994), menciona a alfabetização, como parte da vida, não se separando da escola, mas como um percurso, que na maioria das vezes, antecede a escola, não se findando ao término da escola primária (hoje, Ensino Fundamental I); Elias (2001), concebe a alfabetização, como construção ativa do objeto de conhecimento, ou seja, uma relação íntima com a leitura e a escrita numa relação pessoal, criativa e interdisciplinar; Silva (2005), entende que a alfabetização deve instrumentalizar o sujeito, a fim de lhe oportunizar conhecimento e interpretação do mundo, possibilitando-lhe ser cidadão.

            Diante de tais concepções, me permito traçar um paralelo entre os dizeres dos verbetes dos dicionários e concepções dos pesquisadores aqui expostos, refletindo: será que o descrito nos verbetes, como sendo a alfabetização ou alfabetizar, o ensino do ler e do escrever, sendo este ensino igual a codificação do escrever e a decodificação do escrito?

            Ao pensar a respeito dessa questão, me parece que por trás do significado ler e escrever, há um sentido bem mais amplo, pois do contrário, qual seria o significado da alfabetização? Para que se ensinaria a ler e escrever?

            Quando se medita acerca das concepções dos estudiosos da alfabetização, o significado remete à ampla compreensão do termo, traduzindo que a aprendizagem do ler e escrever, abre horizontes para o uso da leitura e da escrita, seja inicialmente com a codificação das letras e decodificação de suas junções, progredindo para a compreensão dos sentidos atribuídos a esses conjuntos de junções das letras.

            Nessa direção, é possível dizer que há quase trinta anos, as concepções dos citados autores, sobre alfabetização, condizem com os dizeres da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2019:

A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. (BRASIL/MEC., 2019, p. 57-58)

                De acordo com a citação descrita, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, há que haver uma harmonização com as aprendizagens adquiridas no Ensino Infantil, prevendo uma sucessiva organização desses aprendizados, aliados ao desenvolvimento dos educandos de novos modos de compreensão do mundo, novas perspectivas de leitura e elaboração de pensamentos, sobre os acontecimentos, testando-os, contestando-os e produzindo finalizações, enfáticas na produção de saberes de modo vivaz.

            Ou seja, ação política criativa de conhecer e ler o mundo pelas palavras (Freire,1994); estar alfabetizado, não é um estágio ao qual se chega, mas um caminho o qual muitas vezes, antecede à escola, não terminando ao final do Ensino Fundamental I (Ferreiro, 1994); elaboração em movimento do objeto de conhecimento (alfabetização), numa afinidade pessoal, criativa e interdisciplinar (Elias, 2001); a alfabetização deve possibilitar ao sujeito o conhecimento de mundo, favorecendo sua cidadania (Silva, 2005).

            Nesse contexto, a alfabetização compreende a leitura, a compreensão do texto lido, saber escrever textos diversificados, conforme a necessidade do contexto. Portanto, ao se alfabetizar, é preciso ter clareza sobre o significado de ler e escrever, se estabelecer objetivos específicos ao conteúdo a ser ensinado, bem como uma sequência didática de atividades, referentes aos objetivos estabelecidos.

 

Referências Bibliográficas

BRASIL, M. E. C. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, MEC/SEF, 2019.

BUENO, F. da S. Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo F.T.D., 1996.

ELIAS, M. D. C. De Emílio a Emília: A trajetória da Alfabetização. São Paulo Scipione, 2000.

FERREIRA, A. B. de H. Aurélio Junior: Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Curitiba, Editora Positivo, 2011.

FREIRE, P. A importância do Ato de Ler. São Paulo, Cortez, 1994.

SILVA, de T. S. Alfabetização: Uma experiência bem sucedida. São Paulo, Articulação Universidade/Escola, 2005.

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