Por Profª Drª
Silvia de Toledo Silva
De acordo com a história da
educação, a escrita surge pela necessidade de comunicação entre o povo egípcio,
primeiramente por meio dos hieróglifos, em seguida, como obra artesã, para
perpetuar os costumes das famílias conservadoras, entretanto nessa época, não
significava o ensino por escrito, já que nesse período, o ensino era mnemônico,
ou seja, memorizados, principalmente para se reter na memória os preceitos
religiosos.
Por
volta do século IV a. C., conforme explica Manacorda (1989), ao escrever a
respeito da educação grega, menciona o termo, escola do alfabeto e situações de
escrita, referente aos povos antigos.
A partir desse período, a escrita
começa a ter importante função social, aos cidadãos livres, ensinada pelo
mestre do alfabeto, o qual não tinha a mesma autoridade do escriba egípcio,
porém exercia uma importante função social. A escrita, portanto, era parte dos
conteúdos que um jovem livre deveria saber.
Se, nessa época, a escrita já surgia
como função social, atualmente, na segunda década do século XXI, nem se discute
tal importância! Nesse sentido, como explicar que alunos matriculados na
Educação Básica (Ensinos: Infantil, Fundamental e Médio), após tantos anos na
escola, ainda cheguem ao final, com defasagem no processo de alfabetização, uma
vez que verbetes de dicionários, expõem que alfabetizar, é o ensino da leitura
e escrita (Bueno, 1996); ensinar alguém ou aprender as primeiras letras,
percurso de aprendizagem dos códigos alfabéticos e numéricos (Houaiss, 2001);
ensinar a ler e escrever (Ferreira, 2011); significado de ensinar ou aprender a
ler e escrever (aule-te.com.br, 2022).
Estudiosos do ato de alfabetizar,
atribuem-lhe sentidos mais amplos, como Freire (1994), que compreende a alfabetização,
como ato político de criar, conhecer conseguir ler o mundo pelas palavras;
Ferreiro (1994), menciona a alfabetização, como parte da vida, não se separando
da escola, mas como um percurso, que na maioria das vezes, antecede a escola,
não se findando ao término da escola primária (hoje, Ensino Fundamental I);
Elias (2001), concebe a alfabetização, como construção ativa do objeto de
conhecimento, ou seja, uma relação íntima com a leitura e a escrita numa
relação pessoal, criativa e interdisciplinar; Silva (2005), entende que a
alfabetização deve instrumentalizar o sujeito, a fim de lhe oportunizar
conhecimento e interpretação do mundo, possibilitando-lhe ser cidadão.
Diante
de tais concepções, me permito traçar um paralelo entre os dizeres dos verbetes
dos dicionários e concepções dos pesquisadores aqui expostos, refletindo: será
que o descrito nos verbetes, como sendo a alfabetização ou alfabetizar, o
ensino do ler e do escrever, sendo este ensino igual a codificação do escrever
e a decodificação do escrito?
Ao pensar a respeito dessa questão,
me parece que por trás do significado ler e escrever, há um sentido bem mais
amplo, pois do contrário, qual seria o significado da alfabetização? Para que
se ensinaria a ler e escrever?
Quando se medita acerca das
concepções dos estudiosos da alfabetização, o significado remete à ampla
compreensão do termo, traduzindo que a aprendizagem do ler e escrever, abre
horizontes para o uso da leitura e da escrita, seja inicialmente com a
codificação das letras e decodificação de suas junções, progredindo para a
compreensão dos sentidos atribuídos a esses conjuntos de junções das letras.
Nessa direção, é possível dizer que
há quase trinta anos, as concepções dos citados autores, sobre alfabetização,
condizem com os dizeres da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2019:
A
BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações lúdicas
de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as experiências
vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa prever tanto a
progressiva sistematização dessas experiências quanto o desenvolvimento, pelos
alunos, de novas formas de relação com o mundo, novas possibilidades de ler e
formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar
conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. (BRASIL/MEC.,
2019, p. 57-58)
De acordo com a
citação descrita, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, há que haver uma
harmonização com as aprendizagens adquiridas no Ensino Infantil, prevendo uma
sucessiva organização desses aprendizados, aliados ao desenvolvimento dos
educandos de novos modos de compreensão do mundo, novas perspectivas de leitura
e elaboração de pensamentos, sobre os acontecimentos, testando-os,
contestando-os e produzindo finalizações, enfáticas na produção de saberes de
modo vivaz.
Ou seja, ação política criativa de
conhecer e ler o mundo pelas palavras (Freire,1994); estar alfabetizado, não é
um estágio ao qual se chega, mas um caminho o qual muitas vezes, antecede à
escola, não terminando ao final do Ensino Fundamental I (Ferreiro, 1994);
elaboração em movimento do objeto de conhecimento (alfabetização), numa
afinidade pessoal, criativa e interdisciplinar (Elias, 2001); a alfabetização
deve possibilitar ao sujeito o conhecimento de mundo, favorecendo sua cidadania
(Silva, 2005).
Nesse contexto, a alfabetização compreende
a leitura, a compreensão do texto lido, saber escrever textos diversificados,
conforme a necessidade do contexto. Portanto, ao se alfabetizar, é preciso ter
clareza sobre o significado de ler e escrever, se estabelecer objetivos específicos
ao conteúdo a ser ensinado, bem como uma sequência didática de atividades,
referentes aos objetivos estabelecidos.
Referências
Bibliográficas
BRASIL,
M. E. C. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, MEC/SEF, 2019.
BUENO,
F. da S. Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo F.T.D., 1996.
ELIAS,
M. D. C. De Emílio a Emília: A trajetória da Alfabetização. São Paulo Scipione,
2000.
FERREIRA,
A. B. de H. Aurélio Junior: Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Curitiba,
Editora Positivo, 2011.
FREIRE,
P. A importância do Ato de Ler. São Paulo, Cortez, 1994.
SILVA,
de T. S. Alfabetização: Uma experiência bem sucedida. São Paulo, Articulação
Universidade/Escola, 2005.
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